Quais são os principais problemas fundiários de Timor-Leste?
São vários:
- Não existe ainda uma lei fundiária sobre os direitos da terra;
- Não há, nomeadamente, registos de terra;
- Não há um sistema bem definido sobre a posse da terra;
- A atribuição de terra no país ainda é dominada pelos usos e
Costumes tradicionais;
Explique-me, na prática, quais são algumas dessas dificuldades e que medidas se estão a tomar para alterar a situação.
Na prática, a principal dificuldade é a inexistência de lei sobre os direitos de terra, que permita um bom regulamento e funcionamento dos direitos da terra. Para tentar alterar a situação, o Ministério da Justiça e a Agência Internacional USAID trabalharam juntas e elaboraram o Programa sobre Legislação de Terras sob a Direcção Nacional de Terras e Propriedades do Ministério da Justiça. Este estudo sobre os direitos da terra em Timor-Leste permitiu lançar algumas recomendações para que o governo possa elaborar uma lei fundiária.
Quais são as melhores qualidades de Timor, no domínio fundiário? Que programas destaca nessa área?
Neste momento, podemos dizer que, em todo o Território de Timor-leste, ainda não há grandes problemas e disputas sobre a terra. Isto acontece porque o domínio da terra baseia-se nos usos e costumes tradicionais e quando há resoluções a tomar e disputas a resolver ou problemas de terras quem intervém são os líderes tradicionais a nível de aldeias e sucos.
Um dos programas mais importantes criados a este propósito é o que estabelece os poderes aos líderes comunitários, que, em Timor-leste, é conhecido como o Conselho do Suco (isto é, uma estrutura a nível dos sucos compostas pelos membros da comunidade eleitos).
Na sua opinião, quais são as necessidades de formação, no domínio fundiário, mais urgentes para o país?
As necessidades de formação mais importantes em relação ao domínio fundiário no país são:
- A capacitação para a Instituição da Direcção Nacional de Terras e Propriedades para que possam exercer as suas funções de coordenação e gestão dos trabalhos fundiários (administrativos).
- Capacitação sobre métodos de registos de terras e propriedades.
- Capacitação para a Gestão de terras agrícolas
- Capacitação para técnicas modernas sobre a topografia e cartografia
- Capacitação para os Líderes Comunitarismos sobre o direito de terra e as suas funções.
O pessoal-alvo desta capacitação seriam os técnicos da Direcção Nacional de Terra e Propriedade, os técnicos de Sistema de Informação Geográfica da Direcção Nacional de Política e Planeamento do Ministério da Agricultura.
Qual o papel da mulher timorense na gestão da terra e na agricultura? Considera que é subjugada e que é pertinente a criação de programas/formações que apoiem o seu direito à terra?
A mulher timorense desempenha um papel importante, sobretudo na gestão de terra para a produção da família e para a garantia da segurança alimentar. As mulheres nas áreas rurais envolvem-se directamente, com os outros membros da família, no processo de produção agrícola, isto é, na selecção de sementes, no cultivo, na colheita e no armazenamento de produtos.
É claro que é necessário criar programas e formações para as mulheres de Timor-leste porque na prática diária, e mesmo no passado, na nossa história de resistência e luta contra a ocupação estrangeira, as mulheres foram importantes e determinantes na nossa libertação. Hoje a igualdade de género é um assunto importante no país, por isso consideramos e apoiamos a ideia de que as mulheres tenham o mesmo direito à terra que os homens.
A criação de um programa ao nível da CPLP para reforçar a capacitação em matéria de terra é importante para Timor? Porquê? Acredita que o programa é viável?
Sim. É muito importante porque em Timor-leste ainda prevalece, até agora, uma cultura social e económica influenciada pelos Portugueses, acaba por diferenciar o país da região onde se insere. Acredito que o programa será viável e que os países da CPLP que podem dar mais apoios são Portugal e o Brasil.
O facto de Timor ser o país mais afastado dos restantes países lusófonos pode ser uma dificuldade, ou não o é?
Apesar de ser mais afastado, isso não é uma grande dificuldade porque vivemos esta era da globalização.
1 comentário:
É sempre interessante saber o que pensam sobre estas matérias os participantes no atelier. É bom voltar aqui regularmente e encontrar novidades.
Continuem a publicar as entrevitas, fico à espera.
Um abraço a todos/as.
Vanda Narciso
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